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Gestão Financeirasetembro 15, 2023

Adiantamento de recebíveis: Salvação ou armadilha?

Quando o assunto é suprir a necessidade de Capital de Giro, o Adiantamento de Recebíveis é a ferramenta mais comumente utilizada.

Você sabe o que é o adiantamento de recebíveis? Será que todos os empresários que utilizam essa ferramenta realmente sabem o que ela é e conseguem utilizá-la da melhor forma?

Aqui traremos alguns pontos importantes para que o empresário possa utilizar essa ferramenta sem correr riscos “ocultos”.

Adiantamento de recebíveis? Como funciona?

O adiantamento de recebíveis, assim como o nome já aponta, é o recebimento de valores em uma data anterior ao vencimento dos títulos relacionados. Portanto, tem como ponto de partida uma transação comercial bem-sucedida, que será a base para concretização do adiantamento.

A utilização dessa ferramenta tornou-se muito disseminada e corriqueira no mercado devido ao seu custo atrativo e, principalmente, à praticidade/velocidade na autorização das operações.

Porém, devemos ter em mente que os adiantamentos só são viabilizados com facilidade porque o empresário dá 100% de garantia às instituições financeiras, ao ceder o seu direito de receber o valor daquela transação comercial bem-sucedida.

Portanto, temos aqui uma ferramenta que traz agilidade e (geralmente) baixo custo relativo para o empresário. Mas, é exatamente por esses mesmos motivos que é muito comum analisarmos negócios gravemente afetados pela utilização indiscriminada desse expediente.

E quais são os riscos?

Custo de uma potencial inadimplência

Caso o cliente em questão não pague a duplicata, o empresário terá que arcar com 100% do valor, ainda pagará juros e ficará incumbido de lidar com o cliente inadimplente.

Falta de visibilidade em relação ao real custo da operação

Quando um empresário faz um adiantamento, ele não receberá um título para pagar à instituição financeira, pois o banco depositará o valor do título já descontado dos juros e taxas em sua conta.

Essa relativa praticidade gera complexidade no controle financeiro, pois os relatórios financeiros (como o DRE) devem apresentar faturamento no valor total do título e um lançamento de juros e taxas no valor total descontado. É comum que as empresas não consigam visualizar o quanto as operações de adiantamento estão lhe custando. O que pode tornar-se um grande risco para empresas com margens de lucratividade reduzidas.

Há duas outras características que complicam o cenário: Juros diários (cobrados em uma parcela apenas) e quantidade de títulos envolvidos. Uma dinâmica que torna cada vez mais difícil avaliar o custo real da operação de adiantamento, enquanto utilizamos cada vez mais títulos diferentes com vencimentos diferentes.

Utilize o adiantamento da maneira correta

Com isso, podemos imaginar o cenário de uma empresa que não consegue calcular, no ato, o custo efetivo de seus adiantamentos e ainda fica sem a avaliação correta do impacto desses custos em sua rentabilidade. Empresas nessa situação podem entrar em uma dinâmica de “Bola de Neve”, na qual é obrigada a fazer cada vez mais adiantamentos, cada vez mais caros, para honrar seus compromissos, até que a sua carteira de recebíveis se esvazie e fique com um grande “buraco” no fluxo de caixa da próxima semana.

Os riscos e o exemplo de cenário catastrófico, apesar de serem bastante reais e não tão raros, não devem nos impedir de utilizar essa ferramenta em nossas operações. Nesse caso, se mantivermos estes pontos em mente e nos adaptarmos a eles, poderemos utilizar os adiantamentos sem medo, para que nossa empresa ganhe fôlego e suporte uma dinâmica de crescimento mais arrojada.

Analise os motivos que levam a empresa a precisar de adiantamento de recebíveis

Aumento do volume de produção/venda

Em uma situação de crescimento de volume, observamos o aumento da necessidade de capital de giro que poderá ser suprida pelo adiantamento de duplicatas. Nesta situação, é importante que a parcela de recebíveis adiantados dos meses futuros não seja grande o suficiente para que o total de vencimentos do mês seguinte seja menor do que o nosso ponto de equilíbrio. Exemplo: Se nosso ponto de equilíbrio é de R$ 50 mil e o total de vencimentos de contas a receber do próximo mês é R$ 70 mil, não deveríamos adiantar mais do que R$ 20 mil de duplicatas que vencem no próximo mês. Dessa maneira, o risco de tomar os adiantamentos é muito baixo.

Volume mensal de recebimento muito baixo

Se, por algum motivo pontual, a empresa se deparar com um mês de recebimentos muito baixos, o adiantamento pode ser a ferramenta utilizada para suprir o caixa. Porém, é de extrema importância que o motivo para a baixa seja claramente pontual e temporário: mudança no local da fábrica ou estoque; troca de sistema operacional com impactos no faturamento; ataque hacker; falha na cadeia de suprimentos; manutenção de maquinário.

Volume mensal de despesas pontualmente alto

Aqui, podemos utilizar os adiantamentos observando a questão do ponto de equilíbrio explicada anteriormente. Para isso, é de extrema importância que tenhamos clareza quanto aos recebimentos já garantidos para os próximos meses. Para situações pontuais como pagamento de décimo terceiro salário, causas judiciais, multas e outras situações semelhantes, a utilização é possível.

Aumento dos gastos da empresa, provenientes de investimento

Caso a falta de caixa seja causada por gastos em investimentos, o adiantamento de duplicatas não é a ferramenta correta. Nesta situação há um grande risco de cair em na temida “Bola de Neve”.

Queda de volume de faturamento em tendência duradoura

Deve-se evitar, a todo custo, a utilização dos adiantamentos nesta situação. Imagine que no “mês 1” a empresa contrate vários adiantamentos de duplicatas, reduzindo a quantidade de recebíveis do “mês 2”. Já que a tendência de baixo faturamento persiste, no “mês 2” a empresa precisará adiantar mais duplicatas, ou já contratar outro tipo de financiamento. No “mês 3” a empresa já terá pago todos os juros dos adiantamentos feitos nos meses anteriores e precisará ainda arcar com uma nova despesa em seu fluxo de caixa.

Domine as informações financeiras mais importantes do negócio

Relatório de Contas a Receber (por data de vencimento)

Deve demonstrar claramente o universo de duplicatas a que esse empresário poderá recorrer. Dessa maneira, poderemos escolher quais duplicatas utilizar, quando e quantas utilizar. Além disso, ajudará a compor o recebimento esperado do próximo mês para que saibamos o valor que se pode adiantar, o que preserva o ponto de equilíbrio.

Previsão de volume de faturamento com recebimentos à vista

Será utilizada para compor o recebimento esperado do próximo mês para que saiba o valor que se pode adiantar. O que também preserva o ponto de equilíbrio.

DRE (demonstrativo de resultado do exercício)

A análise do DRE é que fornecerá o valor do Ponto de Equilíbrio” para que o empresário saiba o valor limite a ser adiantado do próximo mês.

Fique de olho nos lançamentos do sistema

Garanta que os lançamentos decorrentes da utilização dos adiantamentos estejam corretos no sistema. Isso possibilitará ao empresário ter a visibilidade correta do impacto dos adiantamentos em sua rentabilidade.

Utilize esse aprendizado ao máximo!

Cada empresa possui uma dinâmica de caixa diferente e com seus próprios desafios. Porém, qualquer tipo de negócio poderá utilizar essas dicas para evitar as armadilhas implícitas das operações.

Esperamos que esse artigo tenha eliminado algumas dúvidas de empresários e auxiliado na tomada de decisão entre a contratação de diferentes modalidades de financiamento!

Henrique Massucato
Líder Especialista DHoffmann – Gestão e Inteligência de Negócios
henrique@dhoffmann.com.br

Fonte: Revista Locale

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